-->




Nome: Sinhá Menina
Idade: ainda um coyote
Nasc.: era das Heras
Signo: leão
E-mail: A_Sinhazinha
@hotmail.com

Messenger: o mesmo

Sugiro:
Comprar urgentemente o novo álbum de Bethânia,«Que Falta Que Você Me Faz», porque lá dentro tem esta pérola perfeita:

Podem me chamar
E me pedir e me rogar
E podem mesmo falar mal
Ficar de mal que não faz mal
Podem preparar
Milhões de festas ao luar
Que eu não vou ir
Melhor nem pedir
Eu não vou ir, não quero ir
E também podem me obrigar
Até sorrir, até chorar
e podem mesmo imaginar
O que melhor lhes parecer
Podem espalhar
Que eu estou cansado de viver
E que é uma pena
Para quem me conheceu
Eu sou mais você
E ... eu


[Vinícius de Moraes]


Não Recomendo:
O consumo de produtos transgénicos

Coisas da Terra:




moon phases
 


Mural da Amazona:













Site Meter

 
   sexta-feira, outubro 29, 2004  

I NEED YOU BABY


(...)

But if you feel like I feel
Please let me know that it's real
You're just too good to be true
Can't take my eyes off of you.


I need you baby, and if it's quite all right,
I need you baby to warm a lonely night
I love you baby
Trust in me when I say:
Oh pretty baby, don't bring me down, I pray
Oh pretty baby, now that I found you, stay
And let me love you,
oh baby let me love you,
oh baby....

^

"Can't Take My Eyes Of You"
na voz de Lauryn Hill

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:48 da manhã|1 Enviar um comentário



 

WHAT AM I TO YOU?


A meio da noite a Grande Loba traz a sua voz atlântica para dentro do olho do furacão e faz troar na noite aquela velha frase de sabedoria simples. Tão simples que é quase biológica:

«Tudo sai no chichi. TUDO.»

A meio da tarde percebo que, mais uma vez, estava certa. Está sempre certa, a Grande Loba. Sempre. Senão não era Grande. De outro modo não seria Loba.

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:00 da manhã|0 Enviar um comentário



 

NIGHTS IN WHITE SATIN


Cravo um alfinete em cada canto. Esquiço a pó de giz meia dúzia de linhas sobre as vindimas do Douro. Movo quatro livros de poesia para uma prateleira mais acima do primeiro degrau. Troco uma lâmpada fundida e fico no patamar da lua, sob a voz rouca e maltratada do Mestre. «O que é? Sabes?» Não, eu não sei. Só adivinho. Pelo que não digo. Pelo que não faço. «Já não me é permitido ter-te ao colo?» Não, creio que não. «White Satin, é do meu tempo. Não é do teu.» Fizeste-me precoce, lembras-te?! «Bem sei!... Hoje seria crime!...» Criminosas mãos do Mestre, as tuas, então!... «Chove e falas baixo. Devia ir aí.» Sabes o quão obscena pode ser a ânsia de paternidade póstuma? «Sei que estás a falar muito baixo, esta noite.» Estimulaste o meu horror a amigos queridos e preocupados, recordas-te? «Estou arrependido.» Não estejas. Não vale a pena, garanto-te. «E sabes ao menos o que é?» Não, não sei. Adivinho, já te disse. «Disseste!... E eu? Já te disse que White Satin é do meu tempo e não do teu?» Acho que sim, mas eu gosto do gancho que fica pendurado no fim da música. Gosto muito. «Lembra-te de mim?» Não. Lembra-me amanhã. «Sim, afinal tu sabes!» O quê? « O que te faz falar mais baixo!...» É verdade: sei.

« (...) Red is grey and yellow's white
And we decide which is right
And which is an illusion*



*o fim da música. Moody Blues: como é sabido.

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:45 da manhã|0 Enviar um comentário




   quinta-feira, outubro 28, 2004  

CAFEÍNA

Chama-me a ti. Leva-me a ti. Prende-me em ti. E depois fecha-me em ti. Guarda-me no corpo em que te quero estar e não deixes que páre, não deixes que o vento me arranque e uma vontade diferente da minha me paire ao largo de onde me quero. Guardada em ti. Fechada em ti.

Etiquetas:

Sinhá Menina|3:55 da tarde|0 Enviar um comentário



 

THE DARK SIDE OF THE MOON

«Hey you,
Out there on your own,
Sitting naked by the phone,
Would you touch me?

Hey you,
With your ear against the wall,
Waiting for someone to call out,
Would you touch me?

Hey you,
Would you help me to carry the stone?
Open your heart, I'm coming home


Podia sim, podia haver uma qualquer beautiful black singer, perfil esquálido em contra-luz... uma silhueta de cançonetista sobre um fundo de chamas e uma mesa redonda, vestida de cetim até ao chão... e uma luz difusa de "abat-jour lilás" e uma atmosfera nublada de fumos misturados... Podia haver uma qualquer flaming mist burning the air we both breed tonight... Podia sim!... Mas é demasiado o ruído quase surdo das muitas vozes em redor. Demasiado. Distorcem a imediata percepção dos sentidos. Desdobram o olhar deitado sobre as coisas estendidas. Fazem dupla e dúbia a pista tricotada para sinalizar o real. E eu não sei se é a mim que convocas, se é de mim contigo a tua saudade, se é qualquer coisa que tenho que te falta, ou se é apenas de qualquer coisa, ainda que não necessariamente de mim. Ainda que nada mude. Ainda que não mude nada. Só esta minha vontade de saber das coisas. De sabê-las exactamente. Mesmo que nada se altere no detalhe de as saber em pequena nota de rodapé, arrepiadas em breve asterisco e ditas em letra miúda no pé da página. On the edge of a tiny little spot!... There's where he finds her: moving towards the light... going under every fadding shadow of true... (Remember to start a small zoom up side down her crossed fingers! Camera must move slow and deep... quiet deep slow motion, please!). Estou entre o espaço de dois cigarro e um parapeito de janela. «The Infinite Flow Of Light»: just like you! Sou como tu. E quero-te dizer. Through the voice of the beautiful black singer. Estou entre a minha e a tua cama. So slide over here!... Apanho três paus de fósforo. And give me your warm!... Alivio o lábio ao copo. Pesa-me a ausência de outro peso (That's when you must try to use another filter on the steady camera! Please don't forget because it's very important you don't. We must try to drop that same flaming feeling over the table, over the satin cover that goes between them: the both of them!...). Escuso-me ao óbvio que seria dizer-te o que tu já sabes. Prosseguir na direcção do conjunto de acordes seguintes. Os mesmos que tu me adivinhas. Aqueles que eu também sei. Os que, em verdade, são os meus preferidos: you're one of my kind. E outra vez tropeço na imobilidade que me vem do ruído sugerido por demasiadas vozes implícitas. Estou para lá do pavor de outras presenças. Observo a hesitação dos rostos que ora se encobrem, ora se revelam. Rather you hold on to the smoky air or you hang to her finger movement. Please choose your pointing angle but stick strong to that very same selected view from the camera you're operating!... Busco precários equilíbrios entre semânticas estrangeiras. Suprimo parágrafos. Suspendo parágrafos. Torno-me incapaz do fôlego que os retome. Talvez seja porque desconheço o lugar adormecido às coisas. Talvez seja porque continuo a mesma máquina desejante das suas direcções. I still listen to the beauty of two inner bodies sustained by the voice of that black jazz singer. E, afinal, talvez seja apenas esta absoluta desconcentração que me corta o cérebro por dentro e me trava a escrita... Apago a última luz. Amanhã, quando acordar, pego no telefone e vou dizer-lhes que não me apetece criar numa língua estranha. Vou dizer-lhes que não me apetece nenhuma criação que não fale a mesma língua que eu.

Etiquetas:

Sinhá Menina|3:38 da manhã|0 Enviar um comentário




   quarta-feira, outubro 27, 2004  

SADE'S SONG


« This is no ordinary love!
No ordinary love!... »


... E um outro som se vem juntar, afinal, à canção das ventanias, em madrugada de temporal. Esta noite. Esta noite ainda, afinal.

Etiquetas:

Sinhá Menina|3:03 da manhã|0 Enviar um comentário



 

PURPLE RAIN

... Só a canção dos ventos, esta noite. Desta vez tinham avisado a tempestade!... A chuva e as velocidades ciclónicas, também. Desta vez acertaram a previsão: os primeiros raios caem há algumas horas. Gosto!... Fazem a noite fúsia. Como se fosse de cashemira a madrugada!... Por isso só a canção da ventania no trovejo dos raios e da tempestade. Menos mal!... Esta noite.

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:03 da manhã|0 Enviar um comentário




   segunda-feira, outubro 25, 2004  

REINO ANTIGO



«Meu doce reino antigo
Onde araçás de mel
me enchiam de prazer
do alto de galhos verdes
perto de folhas tenras
olhava o tempo e o mundo
sentindo a vida passar suave
tocando de leve como brisa
minha pele
meu doce reino encantado
onde sonhos, canções, gargalhadas
brincavam dentro de mim
me lembro sempre assim
tuas sombras serenas
em tardes quentes e lentas
com leve cheiro de jasmim
meu doce reino dourado
te guardo só para mim
teus tesouros segredados
teus mistérios encantados
doce reino já passado
onde certamente fui rainha
e naturalmente fui rei...
»


É um tema de Rosinha Valença, figura-sombra do absoluto desconhecimento por terras do Império. Chegou cantada a Portugal por Caetano Veloso. No verso gasto da capa do disco leio a custo: 1978. Pode ser!... Deve ser, sim! É possível que seja isso. Em mim ficou a memória desse fundo de violão em voz de pai, vantagens de eterna cria de sono difícil, autorizada a precoces madrugadas em claro. Brancas horas de breu que traziam segredos e interditos. Vigílias brandas por onde chegavam tesouros e talismãs, preciosos presentes do inefável, como naquela noite em que o pai piscou o olho com o último acorde e me disse: «Essa é sua!» e me deu o «Reino Antigo», e me fez etérea herdeira num principado invisível à luz do mundo. Guardo o reino e sigo através dos anos com a canção que todos sempre falam não se lembrar de alguma vez ter ouvido. Minha canção eterna!... Acalanto que ainda mora no meu peito, para me dedilhar a história, para me salvar a infância. Em dias cinzentos de Outono, como o de hoje. Especialmente, cinzentos. Especialmente assim: como o de hoje.

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:22 da tarde|0 Enviar um comentário




   sábado, outubro 23, 2004  

PERSONAGENS

«We bought the ticket, that one-way ticket
The hottest seat on the crazy train»


«lt takes power to walk in our shoes
lt takes power to walk on»


«Home is where my heart is
And I'm always on my way
I don't look back now
We don't look back now»




«We walk the borderline
Crossing those ice-cold waters
We jump into the fire
Riding the wildest storm
Doing it now or never»


«lt takes power to walk in our shoes
lt takes power to walk on»*



* a partir de «Borderline» de Rudolf Schenker

Etiquetas:

Sinhá Menina|11:54 da tarde|0 Enviar um comentário



 

«... IN 60 SECONDS»

Em 60 segundos, Randall «Memphis» Raines podia fazer desaparecer qualquer carro. Durante anos, Memphis roubou todos os tipos e modelos de carros... excepto um: Eleanor, um Shelby Mustang GT 500 de 1967, o seu preferido!

Deixo-me ficar pela tarde, diante da Caixa Mágica das imagens arredias. Mais mansa dentro do sol que alaga a casa. Suspensa por momentos das turbulências de Outubro. Mais mansa e mais quieta. Mais dócil também. Gosto de carros. Fico a ver. Fico diante da Caixa. Olho os movimentos certeiros do homem entre as quatro linhas do ecran. Também gosto do homem. Invulgar, o homem!... Tremenda, a eterna tensão latente entre o movimento e as coisas que se tornam sujeito de atracção. Quaisquer que elas sejam. Humanas ou nem por isso. Como os carros.Tanto faz!...
E fico eu pela tarde, a pensar nesse estranho estado de paixão que há invariavelmente no crime. Em todo o crime. Em qualquer crime. Qualquer que ele seja. Há qualquer coisa de belo «nesse» acto criminoso. Precisamente «nesse»: naquele que se perfila diante de um qualquer estado de paixão e reafirma a lei dos homens pelo simples facto de a transgredir.
Dentro das quatro linhas da Caixa a história prossegue sobre as coisas que vou pensando. Algures pelo meio, o Homem Invulgar diz:

«O Tempo é … aquilo que se faz com ele»

E fico eu satisfeita por não ser tempo perdido, este em que me deixei ficar (mais mansa) a olhar a Caixa: a frase já me vale a tarde.

Etiquetas:

Sinhá Menina|10:36 da tarde|0 Enviar um comentário




   quarta-feira, outubro 20, 2004  

"MANHÃ SUBMERSA"

Escondo disfarçadamente do mundo esta minha absoluta ânsia de lhe fugir. Queria, sim! Queria sumir-me num fundo de névoa sem deixar saudade, que era para eu ser feliz e ninguém sofrer com a minha felicidade!...que era para poder enfim sossegar o cérebro, libertar-me de todo este peso sem remédio que me consome forças vãs!...que era para me salvar ao desperdício de tanto esforço inútil!... Queria!...Queria!... desaparecer sem rasto e subtrair-me a tudo o que ainda se lembra de mim, a tudo o que restou em meu redor. Ter esperança cansa. Acreditar extenua. ... E eu sinto-me demasiado perto desse limbo traiçoeiro onde a fé ameaça perder-se de nós na próxima passada dada... E é aí, exactamente aí que me chega o medo: ... porque imagino que deve ser pavoroso viver sem que ainda reste alguma crença de pé.

Etiquetas:

Sinhá Menina|6:31 da tarde|0 Enviar um comentário




   sexta-feira, outubro 15, 2004  

«THE BOGEYMAN»


« Once upon a time there was an old man who lived in a cottage with his old wife and his granddaughter, who was a little girl, and a faithful old dog who was littler still.
One night a band of Bogeyman passed by and one of them said to the others: 'Brother Bogeyman, this is the house. Let us crash in through the roof, eat up the old man, eat up the old woman and carry away the little girl.'

But the faithful old dog heard them and barked so hard that the Bogeyman ran away. And the old man, suspecting nothing, turned to the old woman and said: 'Darned dog for waking me up. Tomorrow I shall cut off his tail!' And the next day the old man got up at dawn and cut off the old faithful dog's tail.

That night the Bogeyman returned and one of them said to the others: 'Brother Bogeyman, this is the house. Let us make a hole in the roof, climb in and eat up the old man, eat up the old woman and carry away the little girl.'

This went on every night until the old man got so exasperated he cut off the old faithful dog's head. So there was no more barking.

And on that night the Bogeyman came and they made a hole in the roof and they climbed into the house and they ate up the old man. They ate up the old woman. And they took away the little girl in a sack.

And when the Bogeyman arrived home they threw the sack on the floor and one patted it and said 'We shall see to you later,' then they went to bed to sleep until night-time, because Bogeyman only sleep by day.

The little girl heard them snoring and she screamed and screamed. She screamed so much that a man with a big dog came to her rescue. And she told him what had happened. The man put his dog in the sack and took the little girl away.

That night the Bogeyman woke up. They went to the sack and each one patted it, saying 'Let us go to work!' They opened the sack and the big dog jumped out and he ate up all the Bogeyman. And the little girl lived happily ever after
.* »



* Conto tradicional português, em tela de Paula Rêgo e narrado na sua própria voz. Fica aqui, nas suas palavras: tal e qual o evocou à infância, num princípio de noite já distante.

Etiquetas:

Sinhá Menina|4:59 da manhã|0 Enviar um comentário




   quinta-feira, outubro 14, 2004  

«SEDUCTION OF MINOTAUR»



Toda a obsessão é um eco fundo por onde nos falam os sentidos calados que trazemos entalados na garganta... E nenhum gesto estremece no instante em que o maior dos segredos é revelado. Como agora. Aqui. Assim:


« Em Creta onde o Minotauro reina atravessei a vaga
De olhos abertos inteiramente acordada
Sem drogas e sem filtro
Só vinho bebido em frente da solenidade das coisas –
Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto
Sem jamais perderem o fio de linho da palavra
.* »


* «Dual», em «Arquipélago» de Sophia de Mello Breyner (Outubro de 1970) para imagem de XC.

Etiquetas:

Sinhá Menina|5:25 da tarde|0 Enviar um comentário




   quarta-feira, outubro 13, 2004  

JÓIAS

Há um lado de mim que se esquece todos os dias que já não moro na selva, à beira do rio. Há outro que se irrita com o esquecimento. Porque é demasiado cansativa a curiosidade dos outros, sobretudo quando não lhe interessa mais que o exótico pitoresco das coisas.



Podia contar-te da destreza das mãos que enfileiram cada uma destas voltas e da paciência lascada nas beiras de sombra e esteira, onde estas jóias se engendram no acalanto das tardes acima dos quarenta graus. Podia contar-te da perícia por detrás de cada pena emplumada, da persistência de cada curva circundada ao osso e à casca dos frutos pela escama afiada do jacaré. Podia contar-te de como se arrancam as cores à Mãe-Natureza para tingir talismãs raros à medida do belo insubstituível que há em cada mulher. Podia contar-te das matemáticas implícitas em adorno por onde falam as geométricas línguas de cada tribo. Podia muitas coisas, mas creio que não terias por onde escutar nenhuma delas. Na selva de onde venho, as formas de dizer o gosto exprimem-se de um modo bem diferente. Na selva por onde andei, não se desperdiça o efeito de agrado causado à retina por uma mulher. Faz-se qualquer coisa com ele. Cria-se qualquer coisa a partir dele: um cocar, um colar, uma braçadeira, uma música, uma dança, uma canção, uma toada. Na selva de onde vim, o elogio tem um contorno e a vaidade uma razão tangível.

«O teu olhar já me enfeitiçou
o teu calor é fogo, amor
menina-mulher é pura beleza
doce veneno me enlouquecendo
brincadeira de criança
nasceu minha paixão
mulher-guerreira, bela Tupinambá

Vermelho forte é minha paixão
a sua mais completa evolução
ao som do tambor ela vem surgindo
sua pele é meu manto vermelho e branco
vou colorir a ilha inteira de emoção
com a mais linda bela Tupinambá


Cunhaporanga
o teu bailado gingado
dançando na arena
o toque do meu coração
vem no compasso vermelho
vibrando com o boi campeão*
»



* composição de David Assayag

Etiquetas:

Sinhá Menina|8:00 da tarde|0 Enviar um comentário



 

GINGA, GIRA BOI!...

Traz Meu Boi, as nossas danças Xituaras, as vitórias da velha Tupinambara e o coração vermelho pintado na testa!... Dança!… balança girando no compasso da toada… Volteia o olho em brasa, reluz o lombo ao luar e ao suor… Ginga, gira, baila, Boi!... retorce o pescoço, balança a cauda, chicoteia o breu da noite na cadência dos tambores… rufa lendas no coice sacudido do volteio. Gira, gira, gira… e avança!... evolui no pó da arena, cresce ao rubor da fogueira e avança-me!... Olho de brasa em chama branca… Boi do sangue e da paixão! Boi da raça e da emoção!… Vem seguindo em rodopio, galgando o delírio da tribo, avançado a mim… teimoso a mim… roçar de focinho a marrar-me o corpo inteiro. Ginga, gira, baila Boi!... Aperta o anel onde me baila em círculos… dá uma volta… volta e meia… balanceia, rodopia no terreiro outra volta, volta e meia… tonteio de pelo raso, ventas de fumo cuspido à noite, mugido de guerra, urro do coração… Empina as patas no ar, puxa-me ao requebro do chifre, e vem ajoelhar a mim, seduzir-me ao pano, atrair-me ao pano, convidar-me ao pano, roubar-me aos olhos do mundo para dentro da Besta Branca. A mim que sou vermelho. Lindo Toiro, crescido em meu redor!... Boi Branco do coração. Do meu que é vermelho.

Etiquetas:

Sinhá Menina|4:20 da tarde|0 Enviar um comentário



 

O CHAMADO

Há dias que se percebe o lento aproximar das tribos por entre o arvoredo das margens. Vêm para a Grande Celebração da Nação Tupi. Porque há um chamado por igual a bater ao centro do peito em todos os guerreiros, qualquer que seja a tribo a que pertence. Vão chegando em grupos. Assentam por quadras em torno do terreiro guardado à Festa Sagrada. Quando escurece, acendem fogueiras para guiar o movimento nocturno dos que ainda caminham. Assim respondem os povos guerreiros ao chamado que vive entranhado nas entranhas do Rio Barrento. Respondem ao mugido campeão que estremece a ilha e afugenta o inimigo da arena. Vêm dançar a alma ao Boi que escolheram com o coração. Continuo sem saber o que isso quer dizer. Continuo sem saber o que isso é. Sei que há escolhas do coração, mas nunca soube como lhe acontecem. Guardo os olhos abertos. Acredito nas vozes da Floresta, mesmo quando elas enunciam convicções que não explicam. Dizem que o coração há-de bater numa direcção, que se há-de acelerar e pulsar mais forte, e que então estará feita a escolha. Dizem que vou saber porque o meu também há-de escolher: «O coração sempre escolhe.» Gosto desta absoluta ausência de alternativa. Agrada-me pensar que nunca o coração se abstém.

Etiquetas:

Sinhá Menina|4:16 da tarde|0 Enviar um comentário



 

«VEM ME VER! VEM ME VER!»

Leva-me no teu dorso de escorro, Meu Toiro Bravio!... Tenho ainda a chama do teu olho em brasa a fitar-me como uma seta Tupi, a puxar-me da orla em roda ao centro da arena, a dançar-me debaixo da Lua Larga onde me vieste ganhar, e me acasalaste o compasso, e me noivaste para ti, diante dos olhos da Tribo. Boi Branco das harmonias dançadas aos começos!... cadência dos ancestrais ritmos entranhados, toada troante que estremeceu a Floresta e me fulminou o coração. Leva-me. Vem. Vem e leva-me. Leva-me e balança-me mais nua entre os teus dois cornos apontados ao respirar do mundo!... Chora a Cria do Chifre, Meu Boi! Chora agora. Aqui. Sem vontade nem convicção. Chora mais a descoberto, sem o manto das Matas Verdes para a cobrir. Chora mais desprotegida, fora do abraço vermelho e branco da Terna Besta Alva!... Leva-me daqui. Atravessa-me o oceano, que o meu país nunca foi este berço onde cresci. Vem agora e vem já! Leva-me daqui: morro ao longe… morro longe… deixada ao longe… adormecida ao longe… apagada ao fundo: separada da minha pátria, na Nação Valente que desconhece a Terra dos Bravos.

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:28 da tarde|0 Enviar um comentário




   terça-feira, outubro 12, 2004  

PRINCESA ANEL DE CHIFRE

Urras o teu brado de mata quando o Cruzeiro entra ao Sul... E vai a ti o olho da Princesa Anel de Chifre!... Por isso, vem e volta-me, Toiro Branco Prateado!... Vem-me buscar de novo, que está a acabar-se o meu tempo entre os homens. Volta-me e vem, agora que pouco lhes falta para que eu seja só memória vaga de um sono distraído. Vem, volta e atravessa-me ao lugar do Grande Rio Alado, Boizinho Branco das Perdidas Matas Fundas!... Escorro de Dorso dos Barrancos d'Água Doce... Minotauro Tupi do coração vermelho e branco... Mansa Besta que me dormes encarnada debaixo do umbigo. Sou poeira do barro encarnado do teu chão. Sou índia vermelha e branca marcada a ti. Eu sei. Sempre soube. Princesa Anel de Chifre.

Etiquetas:

Sinhá Menina|4:00 da tarde|0 Enviar um comentário




   segunda-feira, outubro 11, 2004  

(DESENG)ANOS

Olho-lhe o rosto estragado e estremeço diante da implacável fúria do tempo, ali: bem diante de mim. «O regresso da Filha Pródiga», atira-me da confortável distância que vai do centro do átrio ao cinzeiro do canto, onde permaneço em devoção. Nunca esta foi a minha casa, digo-lhe quinze minutos depois en passant, num raspão de queixo por cima do ombro, a caminho da mesa. Faz troar uma voz de charuto e eu páro. Volto-me para trás. «O afastamento: essa expressão máxima dos insubordinados!» Não sorrio, não coisa nenhuma. Penso nos 12 anos da Gala. Penso no quão veloz é o tempo e em todas as promessas em projecto que ficaram esmagadas debaixo dessa hedionda máquina de triturar pessoas. E é só porque me esforço por olhar um pouco mais para lá do umbigo das minhas dores e desapontamentos que aqui estou. Porque apesar de tudo, ainda aplaudo a iniciativa ao país moribundo... apesar de tudo, ainda acho que devo vir... que devo cantar os parabéns, não a si nem ao que hoje tem e me convida a celebrar, mas ao que um dia me chamou para sonhar consigo e alguns outros. Apagaremos então 12 velas, esta noite. Uma por cada ano. Parece que foi ontem... e são já 12: 12 anos!!... Céus, como o tempo voa!! Como é imperdoável! Como é indesculpavelmente imperdoável a subversão dos valores sonhados!!... Fuck you, My Lord!!

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:45 da tarde|0 Enviar um comentário



 

A LISTA

Olho o convite gravado a fonte sóbria que me é entregue em mão. Observo um pouco mais de perto a autenticidade da tinta permanente na assinatura e fico a pensar como foi que o Grande Imperador ainda arranjou tempo para rubricar a punho vivo o seu chamado de anfitrião. Meia hora depois o telefone toca em despropositada histeria. A euforia da urgência perturba-me os neurónios e fico eu a pasmar com a deferência, a pasmar com a insistência, a pasmar com a imensa desproporcionalidade que vai da realidade ao efémero. A voz carregada de um afectado metálico continua a repetir a «necessidade de confirmação de presença» e eu descubro uma curiosa e súbita graça à expressão. Pois... lamento: na verdade não estava em Lisboa, vou dizendo na esperança que seja suficiente... na esperança que não seja preciso imolar-me por não ter estado de sentinela atrás da porta, como talvez fosse suposto ter estado. Apetece-me responder com um cliché, um lugar comum, um trocadilho óbvio. Apetece-me dizer que é bem certo que "o carteiro toca sempre duas vezes"... para aquilo que não interessa!... Em vez disso, no atropelo da voz que me pressiona do outro lado da linha, acabo por deixar escapar um «sim» de que não estou absolutamente certa. Desligo a pensar em como seria simples se, a todas as vezes que necessitamos de uma qualquer "confirmação de presença" na vida, pudesse ser só assim: pegar num telefone e exigir um "sim" ou um "não". Desligo e colo um "post it" no espelho da casa de banho: «4ªfeira à noite: Gala». Desligo e lembro-me que não me posso esquecer de começar a recolher todas as sandálias de salto que tenho tresmalhadas em empréstimo. Desligo e penso no quanto preferia receber um A4 rasurado em vez de um cartão sépia. Desligo e sei que à assinatura escorrida directamente do punho do Grande Imperador continuo a preferir os gatafunhos da esferográfica ordinária das ordens de serviço por onde sempre tinha que decifrar o destino dos meus próximos dias. Desligo e não sinto nada: nenhuma honra, nenhuma deferência, nenhum privilégio. Só a mesma tristeza de tudo ter deixado de ser o que era. Como antes. Como antigamente.

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:42 da tarde|0 Enviar um comentário




   domingo, outubro 10, 2004  

UMA «ESTRELA»


«Há-de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê sorrir
Há-de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê chorar
O contrário também
Bem que pode acontecer
De uma estrela brilhar
Quando a lágrima cair
Ou então
De uma estrela cadente se jogar
Só pra ver
A flor do seu sorriso se abrir
Hum!
Deus fará
Absurdos
Com tanto que a vida
Seja assim:
Sim!
Um altar
Onde a gente celebre
Tudo o que Ele consentir.»



... Deixo-te, ao amanhecer, uma «Estrela» cantada. Para quando for de manhã. Para quando for amanhã. Para que a ternura que há na voz de Gilberto Gil cante em ti enquanto cresces. Como se fosse um anónimo beijo vertido do céu na ponta do teu nariz.

Etiquetas:

Sinhá Menina|9:37 da manhã|0 Enviar um comentário




   sexta-feira, outubro 08, 2004  

MAR DE OUTUBRO

Preciso de compensar a ausência dos últimos dias ao mar. Já não há sombra da multidão do feriado, nem dos dias de sol esplendoroso que parece raiaram em Portugal. Já não restam senão teimosos pescadores de cana no areal. Bebo o que resta das marés vivas de Setembro, agora sob um sol sem força, quando o dia se conta pelo lento planar da neblina. Fico enquantos as nuvens negras não se abeiram da linha curva que última enseada desenha no perfil da costa. Depois não sei se sinto saudades do morno da casa, se me entristeço em demasia com esta certeza de Verão no fim. Não sei como vou sobreviver ao Outono e pensar no Inverno basta para me encher de uma angústia que ainda não me apetece. A estética dos ventos frios a sublimar a paisagem nunca me valeu de grande coisa!... Deixo a praia. Não devia ter vindo. Nunca aprendi a gostar das coisas que me entristecem.

Etiquetas:

Sinhá Menina|5:58 da tarde|0 Enviar um comentário



 

LINGUAGEM II







... E sim, podia continuar a chamar-lhes «CROMAS»!... Interessam-me as linhas de força que presidem às coisas, que sustentam as coisas, que atravessam e prolongam as coisas. De regresso a Lisboa, voltarei a trabalhar linhas. Apetecem-me. As linhas. E as suas forças, também.

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:40 da tarde|0 Enviar um comentário



 

DES FEMMES




Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui chantent
Les rêves qui les hantent
Au large d'Amsterdam
Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui dorment
Comme des oriflammes
Le long des berges mornes
Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui meurent
Pleins de bière et de drames
Aux premières lueurs
Mais dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui naissent
Dans la chaleur épaisse
Des langueurs océanes

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui mangent
Sur des nappes trop blanches
Des poissons ruisselants
Ils vous montrent des dents
A croquer la fortune
A décroisser la lune
A bouffer des haubans
Et ça sent la morue
Jusque dans le c¿ur des frites
Que leurs grosses mains invitent
A revenir en plus
Puis se lèvent en riant
Dans un bruit de tempête
Referment leur braguette
Et sortent en rotant

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui dansent
En se frottant la panse
Sur la panse des femmes
Et ils tournent et ils dansent
Comme des soleils crachés
Dans le son déchiré
D'un accordéon rance
Ils se tordent le cou
Pour mieux s'entendre rire
Jusqu'à ce que tout à coup
L'accordéon expire
Alors le geste grave
Alors le regard fier
Ils ramènent leur batave
Jusqu'en pleine lumière

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui boivent
Et qui boivent et reboivent
Et qui reboivent encore
Ils boivent à la santé
Des putains d'Amsterdam
De Hambourg ou d'ailleurs
Enfin ils boivent aux dames
Qui leur donnent leur joli corps
Qui leur donnent leur vertu
Pour une pièce en or
Et quand ils ont bien bu
Se plantent le nez au ciel
Se mouchent dans les étoiles
Et ils pissent comme je pleure
Sur les femmes infidèles
Dans le port d'Amsterdam
Dans le port d'Amsterdam


«Amesterdam»... Eternamente Jacques Brel

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:38 da tarde|0 Enviar um comentário



 

COSTAS

Descobri a «EasyEverything» com algumas dificuldades. Parece que não é coisa rara por aqui um lugar de «acesso rápido» à internet, «a baixo custo», «com mais de mil micros e aberto 24 horas»!... Esta manhã vieram reestabelecer a linha no quarto e já posso usar o laptop, mas não sei se quero. Pelo mesmo princípio por que nunca conseguiram convencer-me a consentir uma televisão no quarto!... Uma televisão no quarto está para mim como a chaminé de uma insineradoura em pleno Parque da Peneda Gerês. É um ruído profundamente perturbador aos barulhos do quarto. Creio que prefiro atravessar uns quarteirões até ao «EasyEverything»... misturar-me um pouco ao perfume cosmopolita da cidade... olhar um pouco mais de perto os apelos sedutores da urbanidade. Agora mesmo, cinco minutos antes da tua voz, falei com um libanês, troquei moedas a uma peruana, e emprestei a última edição da Diva, em troca da Wallpaper, a uma checa que me elegeu para desabafar todas as coisas que continua sem coragem para revelar ao mundo. Ia partilhar contigo um pouco desta absoluta promiscuidade que não estava assinalada na minha agenda!... Ia dar-te a ver a quantidade de gente que se acumula em meu redor, despudoradamente indiferente à tela azul com os bonequinhos do "Messenger"!... Mas há qualquer coisa a sobressaltar-nos a comunicação, esta noite. Não sei o quê. Não me importa o quê. Apenas registo a intranquilidade. A minha pelo menos!... Tenho saudades de casa. Incomoda-me estar longe... Aproveito e registo também esse facto: por alguma razão, deixou de me ser simples deixar Lisboa num repente, sem qualquer tipo de aviso prévio, como sempre fiz. Descubro mais uns quantos emails anónimos no correio que "deleto" sem muito pestanejar. O libanês oferece-se para me passar um filtro imbatível e só por isso me apercebo que devo ter praguejado em voz alta. Ofereço a Diva à checa para fingir uma solidariedade que não professo, tiro um café à saída e volto para a rua com a imagem a preto e branco a brincar-me no pensamento. Sim, esta está mais próxima do fiél que procuro: aquele por onde ando a ver se consigo dar conta dessa tua linha de costas que me traz fascinada.

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:32 da tarde|0 Enviar um comentário



 

LADOS

Amesterdão já era globalizada antes da palavra ser inventada. Terra aberta aos que chegam em busca de algo que não sabem bem o que seja. Uma vez o maquinista do cargueiro contou-me que se diz por aí que dois terços da população de Amesterdão permanece na cidade apenas uma parte da vida. Foi num desses fins de tarde em que me cansei de ver sempre tanta água em volta e fiquei uns dias na beira do porto. Guardou-me com uma fidelidade de Lobo d’ Alsácia, enquanto esperava a chegada de uma peça encomendada à reparação, alguns dias e milhas atrás. Lembro-me que punha a mão em pala sobre os olhos sempre que tinha que me fitar. Mesmo que já tivesse anoitecido. Dizia que se desacostumara do sol. Dizia que se tornara maquinista para isso, para poder viver afundado no convés: a salvo do sol e da luz. Quando me senti mais cúmplice quis saber porquê e ele disse que o sol o lembrava de uma mulher que o fez sofrer. Não falámos nunca de sofrimento. Falámos antes dessa perigosa semelhança entre os cabelos de algumas mulheres e os raios do sol. Conversámos muito, eu e o maquinista com quem nunca me tinha cruzado a bordo. Conversámos acerca do povo dos mares e de como pode o apogeu chegar apenas pelo que se transporta e abre à troca. Conversámos conversas de espaços abertos e trânsitos, ali, por terra de mercadores. Lembro-me que tinha uma gravidade rouca de história quando falava, que lhe encontrei uma espantosa semelhança física com Beckett, e que lhe confessei esta minha absoluta desconfiança que ainda hoje me faz não ser capaz de gostar de gente com olhos azuis. Lembro-me de me ter perguntado se tinha noção da quantidade de pessoas que a excentricidade me deixava fora de alcance aos amores. Lembro-me de lhe ter dito que a excentricidade é o que verdadeiramente nos aproxima do mundo e nos evita as exclusões. E então ele falou-me das raças, da liberdade e de toda a panóplia de diversidades que Amesterdão sempre teve o dom de reunir. Entretanto a peça para reparar a dilatação da caldeira chegou e o cargueiro voltou a entrar a barra para me recolher. Devolveu-me intacta ao Comandante e voltou a pôr a mão em pala na despedida, um pouco antes de descer às entranhas do convés onde o sol nunca entra.

(...)


(...)

Não sei porque me lembro do episódio agora. Só sei que, reparando bem, nada sucede nunca tão desgarrado como parece!... Talvez seja porque olho as ramificações de água dos canais… porque olho os veios raiados das ruas estreitas… porque olho o fervilhado movimento nocturno da cidade, e ela me parece exactamente como o maquinista a descreveu, ali sentado comigo na beira do porto: múltipla e móvel. Ele disse que nunca esta será uma cidade de permanências e eu creio que abro uma excepção à Europa e gosto dela por isso. Gosto dos lugares onde se ensina que a maior riqueza está no que se movimenta e não no que se possui. Como em Amesterdão.

(…)

(…)

Sim, continuo a achar que a Holanda está mais próxima de Terras de Vera Cruz do que da lusa Capital do Império! É uma semelhança que se vem espojar-me à percepção numa desordenada sobreposição de línguas e costumes. Baila em festa aqui, diante dos meus olhos, na Dam Square. Nos anos 80, havia um verso iluminado que alguém compôs a uma canção que se perdeu. Dizia assim: «A ponte é uma passagem para a outra margem». Não, não queiras saber o nome da banda!... Vais rir-te e eu vou zangar-me. Pois bem! Chamava-se “Já Fumega”. Perfeito: não riste. Entendes, portanto, quanta seriedade há naquilo que se vai cozinhando em lume brando. Como a minha percepção da cidade, talvez!... Porque não é imediata a compreensão das coisas diante do espavento do fascínio e da novidade. Como quando se tem vinte e poucos anos. Bem sei que não correu ainda tempo suficiente para lhes somar muitos mais, mas entendo hoje o múltiplo e o móvel como atributos intrínsecos não apenas das cidades como das pessoas que as habitam. E então digo-te assim: sempre soube que todos os lugares de passagem são lugares de paixão, mas só agora me ocorre que apenas os constantes fluxos de gente têm a arte de aprimorar nos povos tanto a tolerância, como as ousadias. Como por séculos acontece com os holandeses. Quem pode apegar-se a regras, numa terra onde tudo muda a cada momento? É por isso (e só por isso) que na capital das laicas tradições, nenhuma diferença faz que a basílica se encrave entre prostíbulos ou que as sex shops fiquem em frente às padarias, expondo às vitrines outros sortimentos de roscas, broas e baguetes de silicone.

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:28 da tarde|0 Enviar um comentário



 

LINGUAGEM I







Não sei. São experimentos, eu acho. «CROMAS». Apontamentos em jeito de triângulo. Interessam-me os vértices.

Etiquetas:

Sinhá Menina|2:25 da tarde|0 Enviar um comentário



 

FRENTES

(...)

Num dos "brown cafes" do centro procuro ansiosamente três coisas que me faltam: um café preto que seja bebível, notícias das eleições por Terras de Vera Cruz e alguém que me explique como chego ao «Easy Everything»: Reguliersbreestraat, 22, em Amsterdão, (Stadhuisplein, 16-18, caso estivéssemos antes em Roterdão) …, está escrito na minha agenda a cair de podre. Sim, eu sei: jurei que nos manteria longe dos subterrâneos, que só caminharia ruas d’ água contigo!... E então…?! «Easy Everything???» Espera! Vês como até os nomes podem ser enganadores?! É uma loja. Apenas. «Eu sei!...e não são todas?» Sim… de certa forma, sim. Nem todas! Ou talvez sejam todas, sim. Talvez só não o sejam em todos os lados. «Mas aqui são!» Verdade, sim. Aqui são. Tinha-me esquecido, mas agora que falas nisso: voltou-me a indecisão de outros tempos. «Melhor! Só as tuas indecisões presentes me podem verdadeiramente preocupar.» Não sorrio. Nunca caímos na asneira de assumir o compromisso de ser ‘blasé’, felizmente. O café volta a ser péssimo, aqui, e este golo deixa-me sem nenhuma vontade de sorrir. Continuas a decifrar o meu rabisco a lápis pela margem da agenda: «… Oferece Internet rápida a baixo custo», dizes tu a juntar palavras. Sim, mas e ali? Ali, a subir na direcção do canto? Ali, onde o carvão do lápis se foi esfumando? «Calma!... Nem todas as sílabas são imediatamente perceptíveis, quando escreves!».

(…)

Na época escrevi na margem uma qualquer observação a lápis que o tempo se encarregou de ir roendo. Talvez fosse uma pista para nos guiar o caminho. Ás vezes faço isso. Ás vezes lembro-me de compensar a ausência de sentido de orientação. Mudámo-nos para um daqueles terraços com vista para os canais. O café não melhorou mas gosto de observar a tua atenção especial à grande quantidade de mosquitos nas imediações dos canais. «Vício de profissão!» Os mosquitos? «Não. A atenção.» A palavra “vício” chama-me pela segunda vez à tal indecisão antiga de que me lembrei há pouco. Mas a minha indecisão não te interessa por aí além. Só se fosse presente, tu disseste. Eu ouvi. Por isso, dou-nos outro assunto e pergunto-te qual o maior charme em teu redor. « Os canais interconectados por centenas de pontes.» E eu?! Eu creio que os casarões do século XVII que ficaram entornados nas margens. «Engraçado!...» O quê?? «Não sei! Sempre esse laivo de decadência a pontuar-te o gosto…» Pelo contrário! Diria antes: sempre essa remissão a uma qualquer Época de Ouro! Podia dizer-te: sempre os canais, a pedirem-te pontes!... «Sempre as cidades, a pedirem-te memórias!...» Agora sim, agora apetece-me sorrir-te. «Sabias que são 160?!» As pontes? «Não. Os canais.» Sabias que chegou a ser a mais rica do mundo?! «Quem? A memória?» Não. A cidade.

(...)

Com o entardecer, avançámos um pouco a cidade. Primeiro Leidsplein. Depois Rembrandtplein, onde estão os cinemas, teatros, restaurantes e boates que ficam cheios até tarde na noite. Ainda praguejas porque as cozinhas fecham cedo e nos apressam o jantar. Ainda pensas no que deixei rabiscado na agenda. Limito-me a jantar sem grande apetite e a espiar a rua por cima do teu ombro, do lado de fora da janela. E então o teu rosto ilumina-se vagamente. «Abre de novo a página!». Qual página? «A que não conseguimos ler». Não gosto quando dás ordens, mas amo-te a firmeza. Estendo-te a página. « …” mais de 1.000 micros abertos 24 horas”», concluis triunfante, a lembrar-me que também te amo esse lado inabalavelmente vitorioso. Mil micros??? «Sim. É o que está aqui! Foi o que tu escreveste: mil micros.» Será possível?? «Se não te enganaste…?!» Eu não me engano quando escrevo. É, aliás, a única forma que tenho de nunca me enganar. «Muito bem! Nesse caso, são “mil micros”.» Acendes outra cigarrilha. Gosto dos teus dedos quadrados. «Foi há muito tempo?» O quê? Que percebi que nunca me enganava quando escrevia? «Não. Que escreveste esta nota.» Não me lembro exactamente. Porquê? É importante? «Depende. Se foi, é provável que os números tenham aumentado. É provável que hoje já não sejam mil micros, que sejam mais que mil.» … Se for é pena! «Porquê? Agradam-te assim tanto os horizontes com terminações exactas?» Nem por isso. Mas gosto de fins com zero. Gosto de coisas circulares. Gosto de linhas infinitas. Sem quebras. «Peço-te outro café?» Não! Vamos pedir a conta. Eu disse que tinha três coisas em falta. «Disseste! … Já te dei o café. Já te comprei o Estado de São Paulo. Falta-me dar-te a Internet, tens razão.» Exactamente! Continuo a precisar desesperadamente de chegar perto da Internet. «Porquê desesperadamente?» Sabes que nunca gostei de falar dos meus “desesperos”. «… Porque ainda estás convencida que a Holanda fica mais longe de Portugal do que do Brasil?!...» Não. Porque é uma terra que me lembra que há homens que sonham construir moinhos.

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:08 da tarde|0 Enviar um comentário




   quarta-feira, outubro 06, 2004  

PROLONGAMENTO

- Escolhe um lugar na Europa.
- Nunca escolho a Europa.
- Agora! Tem que ser agora. Tem que ser já.
- Odeio telefones. Tu sabes.
- Lamento! Por agora, é o que tenho para te chegar. Por enquanto.
- Só um telefone?
- … Não. Também tenho 15 minutos entre escalas!...
- Pode o mundo acabar em bem menos que isso, na verdade.
- Pode?
- Pode…
- E vai acabar?
- Não creio…
- Um lugar na Europa, nesse caso! Agora. Já.
- E os 15 minutos?
- Escoam-se!... e suplicam-me que decida o destino.
- Qual?
- O que é para ser daqui a dois dias.
- Isso é depois de amanhã!
- É!...
- Seria pior se fosse só amanhã. Sem depois.
- Um lugar na Europa!... Agora. Por favor.
- Na Holanda.
- Eu devia saber!...
- O quê?
- Nada!...
- Saber, o quê?
- … Que me pedirias o único lugar que Deus não criou.

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:18 da tarde|0 Enviar um comentário



 

Psiuuuuu!...

«Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
E a atenção começa a florir, quando sucede a noite
Esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
Se enchem de um brilho precioso
E estremeces como um pensamento chegado. Quando,
Iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
Pelo pressentir de um tempo distante,
E na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
Ao lado do espaço
E o coração é uma semente inventada
Em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
Tu arrebatas os caminhos da minha solidão
Como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
Os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
Correr do espaço -
E penso que vou dizer algo cheio de razão,
Mas quando a sombra cai da curva sôfrega
Dos meus lábios, sinto que me faltam
Um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer coisa
extraordinária.

Porque não sei como dizer-te sem milagres
Que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus,
o leite, a mãe, o amor,
que te procuram.»




Herberto Hélder

Etiquetas:

Sinhá Menina|1:48 da manhã|0 Enviar um comentário




   sábado, outubro 02, 2004  

SER «PEQUENINA»


E eu amo essa experiência suprema de excesso que só acontece com a incondicional dedicação ao corpo único. Só pela mão da saturação que há nesse dedicar-se à unidade como o lugar de todas as coisas se chega à sublime vivência da insurrecta desmesura. É por isso, “ex-Rapariga”, que foste verdadeiramente primeira e mestra na minha vida. É por isso que há, apesar de tudo e por cima de todas as coisas havidas, um crédito que te pertence inexoravelmente. Por muito que me roa ter que o reconhecer. Porque tenho que ser justa. E porque não posso agora, por tua causa, abandonar este meu projecto de toda uma vida: ser leal à verdade. Foste, sim! Foste irrepreensivelmente perfeita no excesso e na desmesura. Foste irrepreensivelmente perfeita a amar-me. Nunca nada nem ninguém se dedicou de uma forma tão sublime a amar-me. Nunca o amor de alguém me foi tão imensa e perfeitamente extremo e feliz. Como o que me deste. Como foi o teu. E, sim: tens razão, sim! Tens razão quando bradas enlouquecida contra o vento que um dia foi tudo meu. Foi sim, eu sei. Soube-o logo no mesmo instante e por tudo isso fui plena e perdidamente feliz. Mas tenho este mau feitio das feras ariscas, sabes?!... e hoje do mundo que colocaste na palma da minha mão, não está comigo senão este reconhecimento que me faz ter que admitir que sim, que o mundo inteirinho foi meu, um dia!... porque tu quiseste que me pertencesse… porque tu mo deste pelo puro e infantil prazer de me olhares e veres com ele na palma da minha mão.

… Acontece que hoje “A Menina Mais Feliz do Mundo” nem sequer é capaz de poupar saliva e dizer-te como tudo estava já afinal contido naqueles dois versos de canção que nunca a entusiasmaram por aí além…

«E pedes-me a paz e eu dou-te o mundo
Louca, leve, assim sou eu… um pouco mais!...»

Etiquetas:

Sinhá Menina|6:01 da manhã|0 Enviar um comentário



 

PELE DE ONÇA

Parte-me mas não te repartas. Nunca. Jamais. Tudo ou nada: sempre e só. Não quero a tua melhor parte. Por sorte ou acidente, carrego comigo um passado de mal acostumada e pesa-me a memória viva deste mau hábito de ter tido sempre a vida por inteiro. Não gosto de meios e ganhei com os anos o vício de cuspir as metades assim que me chegam à boca. Porque eu tenho este terrível mau feitio das feras contidas: um gosto pelas fomes inteiras e indivisíveis. Impartilháveis. Irrepetíveis. Inconfundíveis. Lá ao alto, fica o único lugar que pode fazer-me mover. Depois de tudo o que vi e por onde andei. Antes de tudo o que me falta e ainda não tive, não sei, não vi e quero. Portanto vem, mas avança a saber de mim. Com tudo ou com nada. Só não me tragas a tua melhor parte, não vá eu (quem sabe?!...) querer-te, afinal, a pior. E não me chegues com metades. Porque há este ensinamento ganho à experiência, que quem aponta ao alto deve saber: o de que nenhum topo é partilhável.

Etiquetas:

Sinhá Menina|5:24 da manhã|0 Enviar um comentário



Utilitários:
Tempo em Lisboa
Echos da Amazónia
Sapo
Aonde Fica
Babel Fish
Apdeites
Frescos
O Meu Diário
Jornal do Blogueiro
Blogómetro
Arquivo:

julho 2004

agosto 2004

setembro 2004

outubro 2004

novembro 2004

dezembro 2004

janeiro 2005

fevereiro 2005

março 2005

Sons:

Acre FM
Amapa FM
Amazonas FM
Solimões FM
Guaraja FM
Radio Fusao
Radio Mall

Canal MPB
Canal Brasil
Canal Bossa Nova
Canal Samba
Canal Sertaneja
Canal Forró
Canal Mulheres Br

Blog Bossa Nova
Eu Canto o Samba
Sexo,Cachaça Samba & Choro
Ziriguidum
Pra Não Dizer que Não Falei de Flores
Blog Alem do Som
Elas (Cantoras)
Acervo Cassia Eller


Notícias:
A Capital
Diario de Noticias
O Expresso
Jornal Lusofono
O Publico
RTP
SIC
TSF-Radio Noticias
A Visao

Amazonas Sat

Jornal A Critica

Monitor Ambiental

O Eco

Reporteres Amazonicos


Estado do Acre

Tempus Digital

Folha do Amapa

Jornal Empate

Gazeta do Acre

Jornal Rio Branco

A Tribuna

Pagina 20


Folha de Sao Paulo

Correio Brasiliense

Estado de S.Paulo

O Globo

Jornal do Brasil

A Tarde [BA]

Agencia Estado

Correio da Bahia

Estado de Minas

Tribuna da Bahia

Veja

Zero Hora [RS]

Adital


Imagems:
Photosynt

Periplus

Canto do Brasil

Araquem

Fotosite

Portal das Artes


Mapas&Viagem:
World Atlas

Geographic Maps

Ruas do Mundo

Calculador Distâncias

Hyper-Dictionary

Dicionários Vários

TAP Air-Portugal

Guia de Portugal

Brasil do Espaço

Report.Sem Fronteiras

Day Astronomy


Mundo do
Homem Branco:

Min. Ambiente BR

Gov.Estado Amazonas

Gov. Estado Acre

Emb. Brasil em Lx

Portal Governo PT

ONU (Portugal)

INPA

FUNAI

Fome Zero

IBAMA

ISA


Florestania:
Greenpeace

WWF

IPAM

Naturlink

Florestania

Grupo Trab.Amazonico

Amazonia Brasil

Rain Forest Brasil

Exp. Vale Javari

Legados Biodiversidade

Herbario

Trafico de Animais

Mata Atlantica

Permacultura

MeioAmbiente Urgente

O Estrago da
Nação

Bandada Ambiental

Dias com Árvores

Linguagem
das Flores

Os Ambientalistas

Ruínas Circulares

Água: Dona da Vida

Pedra Brasileira

No.Weblog

Bioterra

Ondas

Zoo Br


Vozes Amazónidas:
Tupiniquim

Zuvuya

O Espírito da Coisa

Anotações

As Amazonas

Por Onde Andou
Meu Coração

Casa do Amor

Opaaaa

Correia Neto

Deputado Aprendiz

Matutando

Caverna de Saturno

Coaripólis

Fórum social
Pan-Amazónico


Nação Guerreira:
Mov.Art.Mulheres Amazonia

Inst. da Mulher
Negra

Madres de Plaza
de Mayo

Ass. Mulheres
Contra Violência

Women On Waves

Ajuda de Berço

The Women Press

Com.Dir.Igualdade das Mulheres

UNIFEM

Women Issues

Equal Representation

1000 Women

Essas Mulheres

Jornal da Mulher

Rede Escritoras Br

All About My
Vagina

The Clitoris.com

The Breast Cancer Site

Liga Portuguesa
Contra Cancro

Laço Rosa

WWWomen.com


Raça Mulher:

Cora
[InternETC]


Júlia
[Nove de Copas]


Maura
[Diário de Lisboa]


Meg
[Sub-Rosa]


Ana Carolina
[Mulher de Óculos]


Alzira
[Blog da MA]


Elaine
[Balaio de Siri]


Isadora&Mariana
[Elas por Elas]


Cris
[Carmim]


Mónica
[Sushi Leblon]


Annie Hall
[Outsider]


Thelma e Louise
[Telma&Louise]


Constança
[Imagem e Palavra]


Karim
[Diário Lilás]


Assumida Mente
[Assumidamente]


Sara
[Linha de
Cabotagem]


Anne
[Walkwoman]


Isabel
[Escritos&Imagens]


Maria
[Maria Sai da Toca]


Laurindinha
[Abrigo da Pastora]


Mim
[Nunca Plantavamos Coentro]



Gente da Tribo:
Risco no Tempo

Imperador
da Slovénia

Pentimento

Perto do Coração
Selvagem

Blog do Alex

À Sombra dos
Palmares

Ma-Schamba

Forever Pemba

Compompanhia de
Moçambique

Blogger de Timor

Universos Desfeitos

Alicerces

No Arame

Ene Coisas

As Tormentas

Os Tempos que
Correm

Blogue Social
Português

SOS Racismo

Blog 19

Socio Blogue


Rios &
Correntezas:

Gávea

Digestivo Cultural

No Mínimo

Novae

Projecto Releituras


Créditos:

BLOG DA AMAZONA