sábado, março 05, 2005
«SWEET LADY JANE»
... Como se fosse um presente: pequeno... quase indelével. Como a manhã. Perfeita!... a canção.
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Sinhá Menina|7:22 da manhã|3
quarta-feira, março 02, 2005
CAPICUA
«Vives em mim» ...
Acontece que eu acredito que viver é mais do que sair salvando o que se pode.
... Fazer 3 anos e ser ainda e sempre PEQUENINA.
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Sinhá Menina|11:17 da tarde|0
domingo, fevereiro 27, 2005
«TEMPO,TEMPO,TEMPO,TEMPO»
Não!
Não pode mais meu coração
Viver assim dilacerado
Escravizado a uma ilusão
Que é só desilusão
Ah, não seja a vida sempre assim
Como um luar desesperado
A derramar melancolia em mim
Poesia em mim
Vai, triste canção, sai do meu peito
E semeia a emoção
Que chora dentro do meu coração
Coração
[Modinha -Vinicius e Jobim]
Sim, ouvi dizer que a «Modinha» abriu a noite de quinta, no Canecão. E ouvi dizer que foi Vinicius, outra vez solto na largueza das noites cariocas, e que a garganta era a de Bethânia, e que os acordes do piano luziram mais tropicais às alvas mãos lusas da Maria João Pires. Ouvi... Ouvi, sim. E depois lembrei-me de Botafogo, lá para os lados da Zona Sul. E, então pensei em ti. Na novidade da noite gelada. E foi aí, na evocação à distância de uma coisa bela, que um vago afago veio erguer-me o pensamento e salvar-me da memória.
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Sinhá Menina|6:15 da manhã|0
terça-feira, fevereiro 22, 2005
MORTE SÚBITA
Tinha sido noite mas ia amanhecer. Como se o breu que durava não tivesse mais gravidade que a evidência óbvia das noites se demorarem - um pouco mais do que estamos acostumados - durante o Inverno. Mas então, ergueu-se do chão uma qualquer fatalidade que mais nada fazia prever, um colapso qualquer, breve e bárbaro, e aconteceu que tudo ficou ali mesmo: estancado na primeira sargeta do passeio, sem que sequer se vislumbrasse o mais vago risco de hemorragia
a posteriori.
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Sinhá Menina|8:29 da manhã|0
ESPINAL MEDULA
Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A acção que não valeu
Rodava as horas para trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Para encostar no teu
Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer*
(*) «Valsa Brasileira» de Edu Lobo e Chico Buarque
Por cima do tempo me coloco, para que nada ensombre os raios claros da manhã que por toda a noite segui pedindo que viessem, que trouxessem consigo claridade ao foco e uma lupa sem melindre para guiar o olho jovem e lhe compensar qualquer míopia transcrita ao cromossoma das eras. E no compasso lento do dia rompendo, nem potes de tinta fresca, nem esboço de rodopio no Grande Salão!... Nem rasto de água, nem flor de igarapé, nem boto na correnteza, nem capivara na mata. Só este círculo rasgado que o vôo do milhafre veio deixar aquém das nuvens pardas, no lugar onde meu coração costumava se aninhar amando sem resguardo cada pressentido sinal vindo por rumo Sul. Antes do desespero. Antes do azedo das dúvidas te fazer vir morder-me primeiro, e perguntar depois. Antes de eu voltar a me recordar de toda a violência que pode acontecer no lugar do amor e do quão pesada pode se tornar a mão que um dia nos afagou.
(...)
Chegam a onde estou os gritos da multidão exultando nas ruas e invadindo as praças. Sugiro que levem minha alegria junto com seus gritos, meu contentamento junto com seus vivas, porque hoje eu não posso: perdi a voz e fiquei muda de repente. Uma machada só e cortaram-me a seiva por onde me alimentava e respirava. E quando por fim me faltaram as forças, senti tombar-se-me a testa e escorregaram-me os pulsos. Peço, pois, que levem minha esperança dentro da sua crença. Só não me peçam para celebrar. É que hoje não consigo iludir esta sensação de que se perdeu de mim a razão principal da vitória.
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Sinhá Menina|4:44 da manhã|0
domingo, fevereiro 13, 2005
«DANDARA» II
É dando espinho, é dando amor, é dando
Dandara, Dandara, Dandara
Dando carinho, dor e flor, é dando
Dandara, Dandara, Dandara
É flor que brota em grota
Em greta, em grota, em gruta
Ingrata, o dedo espeta
E grita, berra, braba, forte, mata
Dandara
Bonita, bárbara, felina, flor do gravatá
Vibra o punhal de prata!
Vibra o punhal de prata!
Vibra o punhal de prata!
E ainda assim tão terna
Tão ternamente rara
A flor do gravatá
Medra na pedra
Na pedra se escancara
Dandara, Dandara, Dandara
... Ainda «Dandara», ou "A Flor do Gravatá": ... porque nenhuma Dandara é verdadeiramente só... porque contra qualquer precipitação do olho nú ou do juízo desavisado, existem (sim!) gémeas metades pelos rebordos do mundo. Mesmo que entre mares, tresmalhadas na deriva lenta e incerta dos continentes. Elas existem: as Dandaras... as metades gémeas, gomos siameses da laranja indivizível... As Flores do Gravatá. Existem, e isso é tudo o que basta para lhes vingar vazios, lhes poupar desesperos vãos, lhes compensar moínhas e pelejares. Existem, e é quanto importa para que a raça não lhes morra com a solidão.
[Essa «Dandara» tem letra de Gilberto Gil e Waly Salomão, e apesar de nessa época os anos serem ainda demasiado verdes, creio que foi composta para o filme Quilombo. Imagino que estejamos a falar de 1983, com o devido perdão se acaso a memória me atraiçoar. ]
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Sinhá Menina|4:59 da manhã|0
sábado, fevereiro 12, 2005
SÃO BONITAS AS CANÇÕES...
Mesmo que os cantores
sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa,
são bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
e os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim: você nasceu para mim,
você nasceu para mim
Mesmo que você feche os ouvidos
e as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
me leve até o fim, me leve até o fim
Mesmo que os romances
sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa,
são bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
seus amores serão bons(*)
(...)
Podem sim, os Poetas ser miseráveis e os Banditos ter um choro seu na dobra da canção. Têm sim, uma teima que é só sua, um querer obstinado entre o raso do copo e o equilíbrio da manhã rompendo. E têm arroubos e deleites, trejeitos de cego e cancioneiro. Eles têm!... um amar mais rouco, um pedir mais fundo. E sabem, sim!... Sabem como só eles sabem, destilar o fel em mel, ofegar janelas e alçapões, verter pelos poros e brotar dos avessos a ordem limpa das coisas esquecidas.
(*) Sublime «Choro Bandido» - escrito a mãos pares com Chico Buarque - que escuto esta noite, dedilhado por Edu Lobo na penumbra do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. É a primeira vez que a Velha Praça do Império se digna convocar aos serões dos seus salões, o Trovador das Suavidades trauteadas pelo correr dos anos. Aplaudo de pé: em boa hora nos chega, enfim, quem há muito era benvindo!
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Sinhá Menina|11:59 da tarde|0
quarta-feira, fevereiro 09, 2005
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdao que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no homem que tabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora (...)
[Os versos são do Chico Buarque de Holanda e, depois, terminam assim: «(...)O coração de fora / Samba sem querer / Vem que passa / Teu sofrer / Se todo mundo sambasse / Seria tão fácil viver». Esqueci-me do nome da canção: ficaram só os versos na memória... ]
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Sinhá Menina|9:24 da manhã|0
terça-feira, fevereiro 08, 2005
«DANDARA»
Ela tem nome de mulher guerreira
E se veste de um jeito que só ela
Ela vive entre o aqui e o alheio
As meninas não gostam muito dela
Ela tem um tribal no tornozelo
E na nuca adormece uma serpente
O que faz ela ser quase um segredo
É ser ela assim tão transparente
Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara
Ela faz mechas claras nos cabelos
E caminha na areia pelo raso
Eu procuro saber os seus roteiros
Pra fingir que a encontro por acaso
Ela fala num celular vermelho
Com amigos e com seu namorado
Ela tem perto dela o mundo inteiro
E à volta outro mundo admirado
Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara
[Tributo a Ivan Lins, com letra de Francisco Bosco, filho de João, na voz dela, de Simone]
Sim, Lobas Grandes costumam ver dentro dos olhos, dizem por aí... E sei que vêem, sim. Sei que não mente a sabedoria popular: Lobas Crescidas espreitam os cantos ocultos no peito da gente e reviram os fundos ao coração num só lampejo. É quanto lhes basta, ou não seriam o que são: Lobas. Preciso eu curvar a vénia para te consentir aquilo que já pressentiste tão certeira, afinal?! Tanto melhor, então! Fiquemos assim. Tal e qual estamos. Adivinhadas apenas.
(...)
Entende, Senhora, que por mais doce que seja o canto da Cigarra no meu ouvido, em tempo de léguas, silêncio e frio, ele é tão só um brando acalanto às réstias da minha vaidade demasiado esquecida. Porque, Senhora, a realidade é que nem o fascínio desse canto, verdadeiramente me atenta, a mim que persisto paralisada: incondicionalmente rendida ao Teu encanto hoje sempre tão ausente, e ainda assim tão assente, tão presente. Sempre tão irremediavelmente presente!...
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Sinhá Menina|5:23 da manhã|0
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
«NÃO DEIXE O SAMBA MORRER»...
Mangueira
Teu cenário é uma beleza
Que a natureza criou...
Vista assim do alto
Mais parece um céu no chão
Sei lá
Em Mangueira a poesia
Feito um mar se alastrou
E a beleza do lugar
Pra se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais
Que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá, não sei
Sei lá, não sei
Não sei se toda a beleza
De que lhes falo
Em Mangueira a poesia
Num sobe-desce constante
Anda descalça ensinando
Um modo novo da gente viver
De pensar e sonhar, de sofrer
Sei lá não sei
Sei lá não sei não
A Mangueira é tão grande
Que nem cabe inspiração
[«Sei Lá, Mangueira»
Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho]
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Sinhá Menina|6:15 da tarde|0
sábado, fevereiro 05, 2005
... SOU MANGUEIRA, Ô!
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Sinhá Menina|1:31 da tarde|0
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
AQUI, SENHORA! AQUI
Vens por mim com a mesma e única lei de sempre. Ordenas que vá e mandas buscar-me com a urgência das coisas precisas. Então vem, Senhora! Leva-me a ti mais uma vez. Aponta-me um bico de pássaro e carrega-me para trás do vento Sul. Conheço a lei, Senhora: chegar-te descalça, parar diante do olho amarelo da Grande Loba Faminta, suficientemente nua para receber de ti penas e cocacares, guizos e balangandãs, caneleiras de cunhantã... eu!... Princesa com uma fome igual à tua, cria em berço de Norte frio, chegada a ti Senhora, para ser índia albina dos teus atabaques, tua Menina e teu corso, teu desfile e acalanto, para ser Raínha da bateria no País do Teu Carnaval.
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Sinhá Menina|1:49 da tarde|0
sábado, janeiro 22, 2005
O CAMINHO DAS GENTES
Vamos, então! Vamos porque eu não sei, nem quero saber dessa angulosa bruma que te perde ao longe, não quero saber se ainda me segues ou se já me perdeste da mão, da noite e da madrugada. Tanto me importa se erras por plataformas paralelas e te dobras e desdobras procurando iludir, por tentativas, todos os axiomas da física que dizem que nenhum corpo pode, em simultâneo, ocupar dois lugares distintos no espaço. Vem se quiseres, fica se te parecer preferível. Mas desvia-te do meu pé porque eu preciso de continuar por onde seguia já, antes de tu apareceres. Tenho um rio à espera, um rio que canta com o breu da noite, que assobia baixinho a quem tem ouvido de bicho, que chama por mim e diz o meu nome em sílabas claras. Há uma candeia acesa num rabo de pirilampo a marcar-me vectores ao faro, que é para me guiar por entre as encruzilhadas onde o passo às vezes hesita. E nada posso se escolheres não vir comigo! Tão só consentir-te que fiques. Aí: algures. Onde quer que seja que te parece melhor, que eu não posso nada contra as liberdades. Nada. Somente este sorriso cúmplice com que te olho daqui; o sorriso de quem se reconhece numa liberdade igual – a de seguir por onde vou. Ainda que sem ti.
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Sinhá Menina|1:17 da tarde|0
sexta-feira, janeiro 21, 2005
«CARTA DE OFERTA»
No meio da selva ecoam os tambores para a guerra… por todo o fumo no ar…por todo o chão sagrado que os Brancos queimaram, sem aviso, sem cuidado, sem preço nem dó. Trinta pontos equidistantes, trinta lamparinas, trinta canoas, trinta Pajés. Um olho de água e o rio por Norte. Emergente viagem, rumo ao lugar dos Marubo, ela disse, longe da cidade mais distante que também é distante dos corredores e das Praças do Poder, ela disse. Um grande encontro de Pajés. Porque é hora de lutar pela «Florestania», conhecer as “leis” do Branco, sentar em redor da Carta de Oferta, ela contou, os olhos de avelã em rodopios ávidos de compromisso e paz. Ouve tudo quanto ela te leva, Grande Feiticeiro, e no fim fala-lhe também tu ao centro do peito. Quando desfizeres as pinturas, pousares a cuia e tirares o cocar. Fala-lhe. Na volta das eras. Fala-lhe. Diz-lhe que até as dores mais antigas um dia se cansam e que tudo quanto permanece prisioneiro se há-de enfim libertar. Como o coração dos bandeirantes no correr da Selva!
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Sinhá Menina|10:10 da tarde|0
SENDAS
Falas-me de um rufar de tambores mais à frente. Vens e sinalizas-me urgências. Sei-te com a minha gente, Senhora dos Cabelos de Fogo, Rainha Guerreira desbravando a mata funda, avançando os meus por estradas de água. E fico eu, saudosa desse lento entranhar ao teu lado. Eu daqui, incapaz de seguir contigo, desta vez. Reduzida a amar-te como quem te arma para a empreitada, a beijar-te como quem passa um unguento que te proteja de velhas marcas, novas feridas, e a deixar-te ir quando amanhece. Vai, Senhora!... Vai e leva a minha rendição. Diz ao Meu Boi que irei dançá-lo noutra lua! Diz-lhe que já vou, que lhe chego já! Que pouco tarda!... Pouco agora, Senhora. Já pouco tarda!...
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Sinhá Menina|9:10 da tarde|0
sexta-feira, dezembro 24, 2004
FELIZ NATAL 2004
Verde Estrela Guia, Estrela Maga, Estrela Verde... FELIZ NATAL!! Cinco pontas, cinco hastes, cinco rumos... Estrela de triangulares esquinas sinalizadas a luz... Que seja então um doce e apaziguado tempo, este que chegou e corre aqui. Um voto meu, um copo erguido, um brinde ao alto!... Por uma morna noite verde. Por uma nova madrugada. A um acordar mais sereno. FELIZ NATAL!!...
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Sinhá Menina|7:21 da tarde|0
DEZEMBROS
Com a manhã a corrente limpa o fundo num rojo manso, varre os limos ao limbo alagado da margem larga de Dezembro. No lugar dos aluviões a estação descobre um areal magro, despontadas praias do Grande Rio Barrento, cama líquida onde o canto do boto estende as mulheres da tribo quando a lua enche. E tu não sabes - não sabes, nem podes saber - que (em verdade) sou eu quem renasce com a manhã da véspera de Natal!... Não sabes que sou eu que te regresso, que sou eu quem se desembrulha do papel de arroz salpicado a púrpura cor de vinho, que sou eu quem chega de dentro da caixa de cartão, num canudo de papel em forma de aviãozinho desenhado em dobras minuciosas... Não sabes que me sacas a alma de longe, entre retratos de índio, sons de fita tropicana e escorreitas contas de marubo. Não sabes, nem podes saber. Mas sou eu sim - como um colar de limos - quem volta a boiar à superfície... desencravada do distante silêncio do fundo... arrancada à margem dormente... devolvida ao correr da correnteza que outra vez me deriva em ti. Como um risco na espuma branca do teu rosto invisível. Como uma encomenda postal. Como um milagre de carteiro. Como um duplo toque de campaínha ao meio da manhã. Em véspera de Natal.
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Sinhá Menina|2:21 da tarde|0
quinta-feira, dezembro 23, 2004
UM CERTO AR NOS FENOS
E um dia volta-se. Como um certo ar que dá nos fenos: breve, inesperado, ausente de esforço. Como um sulco sibilado em sopro suave. Volta-se. Como todo o regresso em eminente acontecer. Sem mais nem porquê. Quando já longa se fez a espera. Volta-se. Aqui.
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Sinhá Menina|6:49 da manhã|0
sábado, novembro 13, 2004
NESTE MEU CHEGAR-ME A TI...
Pouso ao de leve, quase sem que me sintas, sobre a tua pele de mármore e fico a ver-te apagar a última luz e baixar ao sono. Venho, com o fim da semana, até às cercanias da serra para guardar a vista de frente para as curvas da Estrada Bela que leva ti. Onde tu dormes e respiras. Onde tu vives e às vezes me amas, só para dilatar esta sensação difusa de te ficar absurdamente mais próxima.
Entre mim e ti há uma encosta, uma tira de alcatrão e um jardim de água deixado em suspenso até à volta da mão sobre o portão. E eu fico aqui: a acender a primeira lareira do ano, a enroscar este estado febril em lãs da Escócia, a beber mel morno da Floresta para calar a tosse e a morrer devagar e sem mimos, devagar e sem ti, devagar e sem te poder chegar, devagar...devagar... entre a chama da lareira e a visão da última curva da Estrada Bela que vai a ti.
É grave se eu te disser que quero às vezes coisas banais?... Que me falta às vezes a normalidade das coisas triviais?... É grave se eu te disser que um dragão inflamado me cospe saudade pela garganta? E que há duas noites que me tortura o sono com asas escamadas a verde? E que sou mais pequena que a cama, e que as sobras do lençol não me deixam dormir porque me faltas tu? Parece-te grave se, além de tudo isto, eu te disser desta irremediável necessidade de ser pardal da serra, só para vir com o final da semana dormir a febre contra o teu peito de mármore?
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Sinhá Menina|5:44 da tarde|0