
COLO
Bom (muito bom!) ficar só assim: empoleirada no parapeito da madrugada a olhar pipas de papel que vão da minha varanda à sua janela! Bom (muito bom!) rir ao vento enquanto o mundo dorme... E então confesso-lhe a minha língua inventada sem destino e faço-lhe desenhos a tinta da china, para que saiba de mim... para que saiba que a vida me fez crescer unhas de muitas cores, penas de arara vermelha entre os cabelos, quatro asas de morcego e uma mão cheia de bichos de seda na ponta das orelhas. Bom (muito bom!) saber que não se assusta e mesmo depois de lhe contar baixinho que há uma cauda de touro branco a espreitar sob o meu vestido, abre uma mão mais forte e vem prender a minha. Bom (muito bom!) ter o seu colo a devolver-me à cama e um lençol branco a adormecer-me ao seu alcance. Bom (muito bom!) saber que me apaga a luz mas não se vai embora enquanto me vê dormir.
Etiquetas: Amazona BLG