
PESADELO

Leva-me de volta ao porto manso onde as barcas seguem sem calendário sobre a correnteza do rio traiçoeiro. Devolve-me ao lugar onde a floresta me engole os passos e me confunde a alma com a natureza do gentio. Lá, onde a noite vem com a lua branca e os uivos dos bichos para se misturar aos gemidos dos homens quando amam. Dizes que me ergueste castelos de vidro do outro lado da janela, mas eu olho e sangro na saudade do tronco ancestral porque é o verde da folhagem que vejo a arranhanhar os calcanhares do céu. Apontas-me o palco mas eu quero o terreiro. Estendes-me o dossel e eu deito-me na rede. Piso o teu chão com guizos nos tornozelos e pés descalços, faço fogueiras no teu jardim, rufo tambores sobre o tampo da tua mesa e atiço onças na tua cama... até te enfernizar os limites e tu rezares para que volte depressa para o lugar de onde me arrancaste... até tu pedires a todos os teus deuses que me façam regressar depressa à selva onde ficou a minha tribo.
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