

Pára ainda o carro negro na calçada. Eu sei. Ouço-o ainda passar na rua e sair a acelerar à saída da curva do jardim. Melhor que não parasse. Melhor que não passasse. Melhor que me libertasse a memória desse trabalhar de motor que reconheceria debaixo de água. Teimoso carro negro. Cruel carro negro. Macabro carro negro. Fantasma das noites a deambular-me o lado velho da cidade, a sinalizar na baínha dos sonos todas as perdas vãs, a evocar lá fora a imperdoável monstruosidade da falha que aconteceu cá dentro. Negra carcaça que o relento corrói até ao dia em que todas as peças se hão-de misturar numa amálgama ferrugenta, impossível de decifrar.
Etiquetas: Amazona BLG