CABECEIRA
E se eu te pedir beijos também ao acordar? E se eu te pedir que voltes a pesar sobre mim pela manhã? Tu vens? Tu fazes? E se eu te estremecer ao de leve para te tirar de onde dormes e te chamar mais aqui? E se eu te disser que amanheci com vontade de caminhar a beira do porto e me misturar aos cheiros e gentes do mercado? Tu deixas? Tu levas-me? Continuas a ceder-me caprichos à luz do dia? Então anda! Vamos agora, antes do sol do meio-dia! Vamos comer tiras de tucumã da ponta da navalha que a vendedeira guarda no bolso do avental. Anda! Corre, que ela desce a margem até ao município, todos os sábados de manhã. Eu sei: ela vem! Todos os sábados, ela disse. Contou-me no dia em que me ofereceu bananas sarapintadas que eu nunca tinha provado. Anda que tenho sede de cupuaçú. Eu levo uma cesta larga e abraço-te com a mão que sobra. Quero o teu olhar inquinado sob a aba do chapéu de buriti a lamber-me os cantos da boca em segredo, enquanto ganhamos a rua empoeirada... rumo ao povo, rumo aos cheiros da manhã cabocla na cabeceira do rio.