

Confio à asa da Gaivota do Tejo a tarefa de acompanhar o vôo do Corvo Negro de Lisboa até às raias por onde cresce e se espalham os Povos da Floresta. Confio-lhe a tarefa de lhes levar o meu coração. Dobro com cuidado a alma para que possa caber-lhe inteira dentro. Sem selo nem carimbo. Sem necessidade de ser pesada ou rasgada a verificação postal. Vai, Gaivota da Praça do Império!... Vai e diz ao Grande Rio da vida que me fez chegar às mãos! Vai e conta-lhe que a colina se iluminou num sorriso mais macio, por entre as brumas da saudade e da ausência!... Vai, Corvo Negro da Capital do Paço, e leva notícia deste meu pulo feliz com a Caixa da Floresta entre as mãos!.... Diz ao Meu Amazonas que continua a pertencer-lhe o raro dom de me mimar com os mais belos presentes que algumas vez já desembrulhei ao espanto!.... Vai e diz-lhe que sim: que vai o mel do morro suave adoçar-me a espera! ...e o abacaxi do sabão amassado por mãos simples e amorosas, lavar-me o corpo e a alma na caminhada! ... que vai o teu algodão cobrir-me a cor jambo da pele com a perseverante arte do teu trabalho e pelejar! ... que vai o anel esculpido na casca do mais doce fruto provado na aldeia, fazer mais bela a minha mão, mais comprometida com cada acto que dela saia ao movimento, mais orgulhosa do enfeite que lhe foi permitido, mais ciente da jóia rara que lhe foi entregue e confiada. Como um talismã, a que respondo abrindo-te a minha vida, traçando-a no teu rumo. Eu: a cria que vieste tomar em rito, que dançaste na arena entre os mais bravos Matis... Tu: Meu Toiro Branco, que me suaste contra o colo da Senhora da Floresta, Mãe de remos e tauás, Senhora da Vida jurada à frente... no remanso do rio... na lua gorda... Coaci Senhora... Dona dos Igarapés, guardiã da minha canoa dormida, Senhora dos Meus Passos arredados pelo Velho Mundo.
Choro-te Amazônia. Choro-te no pranto mais feliz que conheço. Choro-te.
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