
HORIZONTAIS

Tu somas-te em quedas mais ao largo. Refletes-te numa cegueira à margem do espelho e teimas em te soerguer, como quem não é nem nunca mais será capaz de se levantar.

Tu deixas-te estar. Como quem saboreia o que quer que seja que te recolheu ao útero, numa devota doçura sem arrependimento.

Tu viras-te a direito pelos avessos. Catas fragmentos resgatados ao tempo e recrias um muro por entre fissuras e paredes, como quem volta ao verso e estende um caminho de pedra aos pés descalços dos coiotes que a vida te traz.

E eu, eu consinto o tombo ao sentir das camas que passam sob o meu peso. Abro um olho. Mantenho-o imóvel. Talvez quieto. Talvez pronto. Um olho estendido áquem de cobertas e almofadas. Como quem não é imune a nenhuma linha transversa às diagonais e se esquiça na exacta tangente dos traçados horizontais.
(...)
Não, nenhuma queda é mortal. Nenhum chão é igual. Nenhum corpo ocupa o mesmo espaço. Nenhum sono se repete. Mas acima de tudo: não, nenhuma queda é fatalmente mortal.
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