
MUDAS FALAS

Os indígenas erguem o olho ao alto e lêem ao horizonte tudo o que é importante ser sabido. Precisam de poucas falas. Atravessam os meandros onde a frase se deixa ao equívoco, passam para além das palavras e lêem o que é preciso ser lido ainda durante o tempo do seu dizer. Lêem ao fundo, sem sair de onde estão. Guardam os olhos abertos enquanto olham e só. Entre os indígenas se aprende a repensar o valor da pergunta. Com eles se compreende o instante exacto em que ela se faz supérfula. No meio dos indígenas se descobre que a pergunta é só um recurso extemporâneo dos mais míopes ou desatentos. E com o tempo, uma outra percepção do mundo se adestra ao foco da retina: move-se o olho na direcção do fundo ao longe. Como os indígenas, que no horizonte lêem o que fica dito em cima do céu. E assim sabem. Assim se têm: avisados.
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