

E tenho, sim: tenho que ser rude e cuspir um certo ácido na ponta da língua. Porque a voz das meninas soa sempre a esse irritante consentimento no Velho Império, a essa coisa tolerada pela graça protegida de uma certa beleza que assiste ao ser feminino. Evoco todos os teus ensinamentos de calma, mas eu sei que tu és de um Reino ao Longe e me falas de um País onde o Matriarcado das Amazonas é ainda e sempre um louvor sagrado levado mais a peito. Tu não sabes como é nesta Praça ao Norte!!...Tu, não sabes. Não sabes de como é ter voz fêmea à mesa dos homens que ditam as leis no repassar do cachimbo. É preciso amarrar os cabelos, cobri-los com um lenço de corsário para lhes esconder o loiro e impedir que ele ofusque o cerne da questão e desloque ao fundo das pernas o âmago do combate. É preciso fazer com que esqueçam o que os olhos lhes dizem e ser agreste e ser quase tão insuportável ao olho como à presença. É preciso, Senhora! É preciso. É preciso cuspir lascas de fogo por entre o vómito das palavras. É preciso serpentear-lhes a mansa indulgência com que me guardam a escuta, que é para eu não ser só um adorno à mesa, para não ser só um delicioso brinquedo para depois do repasto, não ser só um canto de odalisca a enfeitar-lhes o salão. É preciso garanto-te eu que cresci num berço ao Norte do Mundo. Para que possa falar-lhes do Meu Rio, para que possa levar-lhes a mensagem vital da Floresta que grita. Para que possa ser aqui um pouco mais que peregrina. Para que possa, ainda que ao longe, ser mais um braço estendido por entre os grandes galhos da Árvore Mãe. Um braço transverso ao oceano. Um braço enterrado ao fundo no centro da mesa dos Senhores da Europa caduca, insana nesta ignorância da respiração preste a parar-lhe no pulmão doente.
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