
«O Velho Que Lia Romances de Amor»

«O dentista e o velho contemplavam o rio que passava sentados em garrafas de gás. De vez em quando passavam um ao outro a garrafa de Frontera e fumavam charutos de folha dura, dos que a humidade não apaga.
- Trouxe-te dois livros.
Os olhos do velho iluminaram-se.
- De amor?
O dentista fez que sim.
António José Bolívar Proaño lia romances de amor, e em cada uma das suas viagens o dentista abastecia-o de leitura.
- São tristes? – perguntava o velho.
- De chorar rios de lágrimas – garantia o dentista.
- Com pessoas que se amam mesmo?
- Como ninguém nunca amou.
- Sofrem muito?
- Eu quase não consegui suportar – respondia o dentista.
Mas o doutor Rubicundo Loachamín não lia os romances.
(…)
Fumaram e beberam enquanto viam passar a eternidade verde do rio. (…) As badaladas do Sucre anunciando a partida obrigaram-nos a despedir-se.
O velho permaneceu no cais até que o barco desapareceu tragado por uma curva do rio. Decidiu então que naquele dia não falaria com mais ninguém, e tirou a dentadura postiça, embrulhou-a num lenço e, apertando os livros junto ao peito, dirigiu-se para a sua choça. »
«O Velho Que Lia Romances de Amor» de Luís Sepúlveda
Etiquetas: Amazona BLG