PANO
Ao sol nublado de Setembro, amanhece este grito estridente por onde me chega o clamor da selva...
...Porque a Floresta não conhece trégua. A Floresta é esse desassossego ao canto do peito... a assobia-me como quem chama uma criatura sua... como quem reclama a volta... como quem não se aquieta... a lembrar-me ao regresso... a agitar-me inquietudes... E volto eu a amarrar o pano verde à cintura, com o acordar. Como nas manhãs acordadas no coração da Selva...
... E volto eu a sentar-me entre as mulheres Marubo, no silêncio das tardes lânguidas... Passam-me sabão de abacate no corpo. Prendem-me penas vermelhas de arara brava nas madeixas e casquilhos de pupunha ao pescoço. E outra vez eu me deixo quieta... como uma boneca perdida para ser achada numa vereda de caminho mais ao fundo. Deixo-me a elas. Deixo-lhes tudo. Podem tudo! Deixo que componham aos pedaços um híbrido de mim mais ao centro do espelho.
... E temo que tenha que sair nua de casa!... Hoje...! Temo que tenha que andar nua pela cidade, eu!...Hoje...! Porque me tornei incapaz destas roupas e agora já não sei como me vestir.
Doiem-me as roupas guardadas, à espera do regresso ao centro do espelho.
Doiem-me estas gavetas por abrir.
Dói-me esta metade fechada do armário.