
PLATEIA

Sim, o mundo pode ser muito pequeno, é verdade! Por mim, preferia até que fosse uma aldeia. Sim, é verdade: o recado havia-me chegado. Os teus mensageiros sempre tiveram asas nos pés!... Disseste não importar a multidão. Disseste que 20 mil pessoas seria ninguém. Disseste que havias de saber exactamente onde respirava, que em verdade a sala estaria vazia e não te seria tarefa complicada. Disseste que havias de me encontrar, que me encontras sempre. Muito bem!...Sentas-te quatro filas a baixo. Devemos considerar a promessa satisfeita, nesse caso? Que devo fazer agora? Dar-te os parabéns por teres acertado? Aplaudir-te por teres conseguido cumprir a jura? Diz-me que faço?
Nesse caso, se não te incomodas prefiro ficar aqui. Conheces-me bem (demasiado bem): creio que podemos tirar proveito das vantagens que isso nos dá. Sabes que não gosto de me mover um milímetro do lugar que ocupo. Portanto, prefiro ficar aqui. Mesmo quando o olhar me desce um pouco na penumbra das luzes psicadélicas, no silêncio ensurdecedor da música, e a tua nuca é só mais um ponto diluído na multidão... e a tua nuca já não é do mesmo negro liso dos cabelos que em tempos te suei... e a tua nuca é só aquilo que é: um pedaço de porcelana assinalado no escuro, frágil e nú e, todavia, incapaz de me comover com a obsessão em que ainda se obstina.
Fiquemos pois assim: olhando um palco ao fundo. Ainda que vejas o mesmo que eu, já não te pertence o lugar na cadeira ao meu lado. Hoje estás quatro filas mais a baixo de onde me sento. E não! Não nos encontraremos no fim, à saída. Mas essa é já uma promessa minha, sem direito a aposta, que as minhas certezas jamais serão um jogo à espera do teu aplauso.
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