
POR «CASA DAS MUSAS»

Mágica é a vida, para nós que nos perdemos no entretém das criações sem preço nem comprador. Dias de liberdade sorrindo intocáveis: a salvo do vil metal. A «Casa das Musas» podia servir para ser só assim, sim. Achas verdadeiramente que as combinações são arbitrários jogos casuais? Pois eu digo-te que não, que cada vez acredito menos que sejam. E tu não respondes. Voltas com mais uma caneca do teu chá verde, sentas-te aos meus pés e afias o meu lápis rombo, como quem me quer aguçar a escrita. Reclamas de todos os caprichos em desuso com que me vou opondo à modernidade e eu falo-te das madeiras e dos seringais que passeei do outro lado das águas. Abro a janela porque a luz nunca me é de mais. Fechas a janela porque às vezes também há excessos que te incomodam. Reclamas das aparas que te espalho no tapete mas vens comigo da mesa ao chão. Arrumamos o desalinho mais logo!... Mais para o fim do dia. Ou talvez depois de amanhã. Logo se vê. Gosto do colorido caótico de tudo o que se espalha aqui à mercê das fúrias das nossas invenções sem patrono. E tu ris. Pintas mais um ângulo ao joelho e retocas aquela curva preferida na barriga da perna. Ris e eu torno a mexer-me porque me lembro que sabe bem escrever de cabeça para baixo. E tu voltas a reclamar. E depois voltas a rir. Tomas conta de mim, até chegar a hora de me entregar sã e salva à Senhora das Florestas que virá por mim. Eu sei. Tu também. Guardas-me apenas, e tranquila me proteges em seu nome: para me devolveres intacta. Porque sabes o que eu desconheço: que só a ti é seguro confiar-me. Enquanto ela não vem. Durante o tempo que lhe é preciso até me vir buscar. Como é para ser. Como está escrito que será.
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