VISITAS "DE MÉDICO"

O Doutor Rubicundo Loachamín, dentista encarregue de aliviar as dores da boca a uma extensão exagerada de municípios espalhados pela Selva, tem duas paragens obrigatórias sempre que vem ao povoado. Uma é na livraria, onde vem cumprir a promessa de abastecer de livros o seu amigo, António José Bolívar Proaño, «O Velho que Lia Romances de Amor» mas que vivia entranhado com os índios, onde não se conhecessem estabelecimentos com prateleiras. A outra é no bordel da marginal onde gosta de se vir deitar com a preta Josefina.
« O dentista gostava das pretas, primeiro porque eram capazes de dizer palavras que punham de pé um pugilista KO e, segundo, porque não suavam na cama. Uma tarde, estava ele a retouçar com Josefina, uma esmeralda de pele brilhante como a de um tambor, quando viu um lote de livros arrumados em cima da cómoda.
- Tu lês? - perguntou.
- Leio. Mas devagarinho. - respondeu a mulher.
- E quais são os livros de que gostas mais?
- Os romances de amor - respondeu Josefina, acrescentando os mesmos gostos de António José Bolívar*.»
A partir dessa tarde o Doutor Rubicundo Loachamín encarregou a preta Josefina de
«seleccionar, de seis em seis meses, os dois romances que, na sua opinião, proporcionavam maiores sofrimentos, os mesmos que mais tarde António José Bolívar Proaño lia na solidão da sua choça diante do rio Nangaritza*.»
(* «O Velho Que Lia Romances de Amor» de Luis Sepúlveda)