
(DESENG)ANOS

Olho-lhe o rosto estragado e estremeço diante da implacável fúria do tempo, ali: bem diante de mim. «O regresso da Filha Pródiga», atira-me da confortável distância que vai do centro do átrio ao cinzeiro do canto, onde permaneço em devoção. Nunca esta foi a minha casa, digo-lhe quinze minutos depois en passant, num raspão de queixo por cima do ombro, a caminho da mesa. Faz troar uma voz de charuto e eu páro. Volto-me para trás. «O afastamento: essa expressão máxima dos insubordinados!» Não sorrio, não coisa nenhuma. Penso nos 12 anos da Gala. Penso no quão veloz é o tempo e em todas as promessas em projecto que ficaram esmagadas debaixo dessa hedionda máquina de triturar pessoas. E é só porque me esforço por olhar um pouco mais para lá do umbigo das minhas dores e desapontamentos que aqui estou. Porque apesar de tudo, ainda aplaudo a iniciativa ao país moribundo... apesar de tudo, ainda acho que devo vir... que devo cantar os parabéns, não a si nem ao que hoje tem e me convida a celebrar, mas ao que um dia me chamou para sonhar consigo e alguns outros. Apagaremos então 12 velas, esta noite. Uma por cada ano. Parece que foi ontem... e são já 12: 12 anos!!... Céus, como o tempo voa!! Como é imperdoável! Como é indesculpavelmente imperdoável a subversão dos valores sonhados!!... Fuck you, My Lord!!
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