
O CHAMADO

Há dias que se percebe o lento aproximar das tribos por entre o arvoredo das margens. Vêm para a Grande Celebração da Nação Tupi. Porque há um chamado por igual a bater ao centro do peito em todos os guerreiros, qualquer que seja a tribo a que pertence. Vão chegando em grupos. Assentam por quadras em torno do terreiro guardado à Festa Sagrada. Quando escurece, acendem fogueiras para guiar o movimento nocturno dos que ainda caminham. Assim respondem os povos guerreiros ao chamado que vive entranhado nas entranhas do Rio Barrento. Respondem ao mugido campeão que estremece a ilha e afugenta o inimigo da arena. Vêm dançar a alma ao Boi que escolheram com o coração. Continuo sem saber o que isso quer dizer. Continuo sem saber o que isso é. Sei que há escolhas do coração, mas nunca soube como lhe acontecem. Guardo os olhos abertos. Acredito nas vozes da Floresta, mesmo quando elas enunciam convicções que não explicam. Dizem que o coração há-de bater numa direcção, que se há-de acelerar e pulsar mais forte, e que então estará feita a escolha. Dizem que vou saber porque o meu também há-de escolher: «O coração sempre escolhe.» Gosto desta absoluta ausência de alternativa. Agrada-me pensar que nunca o coração se abstém.
Etiquetas: Amazona BLG