
REINO ANTIGO
«Meu doce reino antigo
Onde araçás de mel
me enchiam de prazer
do alto de galhos verdes
perto de folhas tenras
olhava o tempo e o mundo
sentindo a vida passar suave
tocando de leve como brisa
minha pele
meu doce reino encantado
onde sonhos, canções, gargalhadas
brincavam dentro de mim
me lembro sempre assim
tuas sombras serenas
em tardes quentes e lentas
com leve cheiro de jasmim
meu doce reino dourado
te guardo só para mim
teus tesouros segredados
teus mistérios encantados
doce reino já passado
onde certamente fui rainha
e naturalmente fui rei... »
É um tema de Rosinha Valença, figura-sombra do absoluto desconhecimento por terras do Império. Chegou cantada a Portugal por Caetano Veloso. No verso gasto da capa do disco leio a custo: 1978. Pode ser!... Deve ser, sim! É possível que seja isso. Em mim ficou a memória desse fundo de violão em voz de pai, vantagens de eterna cria de sono difícil, autorizada a precoces madrugadas em claro. Brancas horas de breu que traziam segredos e interditos. Vigílias brandas por onde chegavam tesouros e talismãs, preciosos presentes do inefável, como naquela noite em que o pai piscou o olho com o último acorde e me disse: «Essa é sua!» e me deu o «Reino Antigo», e me fez etérea herdeira num principado invisível à luz do mundo. Guardo o reino e sigo através dos anos com a canção que todos sempre falam não se lembrar de alguma vez ter ouvido. Minha canção eterna!... Acalanto que ainda mora no meu peito, para me dedilhar a história, para me salvar a infância. Em dias cinzentos de Outono, como o de hoje. Especialmente, cinzentos. Especialmente assim: como o de hoje.
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