
NESTE MEU CHEGAR-ME A TI...
Pouso ao de leve, quase sem que me sintas, sobre a tua pele de mármore e fico a ver-te apagar a última luz e baixar ao sono. Venho, com o fim da semana, até às cercanias da serra para guardar a vista de frente para as curvas da Estrada Bela que leva ti. Onde tu dormes e respiras. Onde tu vives e às vezes me amas, só para dilatar esta sensação difusa de te ficar absurdamente mais próxima.
Entre mim e ti há uma encosta, uma tira de alcatrão e um jardim de água deixado em suspenso até à volta da mão sobre o portão. E eu fico aqui: a acender a primeira lareira do ano, a enroscar este estado febril em lãs da Escócia, a beber mel morno da Floresta para calar a tosse e a morrer devagar e sem mimos, devagar e sem ti, devagar e sem te poder chegar, devagar...devagar... entre a chama da lareira e a visão da última curva da Estrada Bela que vai a ti.
É grave se eu te disser que quero às vezes coisas banais?... Que me falta às vezes a normalidade das coisas triviais?... É grave se eu te disser que um dragão inflamado me cospe saudade pela garganta? E que há duas noites que me tortura o sono com asas escamadas a verde? E que sou mais pequena que a cama, e que as sobras do lençol não me deixam dormir porque me faltas tu? Parece-te grave se, além de tudo isto, eu te disser desta irremediável necessidade de ser pardal da serra, só para vir com o final da semana dormir a febre contra o teu peito de mármore?
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