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Nome: Sinhá Menina
Idade: ainda um coyote
Nasc.: era das Heras
Signo: leão
E-mail: A_Sinhazinha
@hotmail.com

Messenger: o mesmo

Sugiro:
Comprar urgentemente o novo álbum de Bethânia,«Que Falta Que Você Me Faz», porque lá dentro tem esta pérola perfeita:

Podem me chamar
E me pedir e me rogar
E podem mesmo falar mal
Ficar de mal que não faz mal
Podem preparar
Milhões de festas ao luar
Que eu não vou ir
Melhor nem pedir
Eu não vou ir, não quero ir
E também podem me obrigar
Até sorrir, até chorar
e podem mesmo imaginar
O que melhor lhes parecer
Podem espalhar
Que eu estou cansado de viver
E que é uma pena
Para quem me conheceu
Eu sou mais você
E ... eu


[Vinícius de Moraes]


Não Recomendo:
O consumo de produtos transgénicos

Coisas da Terra:




moon phases
 


Mural da Amazona:













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   terça-feira, novembro 02, 2004  

SÍTIO DO JACARÉ DEITADO


Chegava-se confiando na perícia dos filhos da terra, por entre um labirinto de areias traiçoeiras que o correr ininterrupto do vento transfigura a cada segundo soprado. Havia uma duna grande, dorso liso de tartaruga gigante, lombo de jacaré dormindo em paz. Para lá, do outro lado das fiadas de água, perdia-se o corpo infindo da praia nua, o cemitério à beira da maré onde o mangue viera morrer um dia, o reino dos jangadeiros, as lagoas verdes, o deserto com os seus jardins de flores de areia e frágeis pétalas em fóssil que o tempo semeou à erosão de dedos passantes. Por sobre tudo isto, sempre o mesmo infatigável canto do vento, morno acalanto de aromas e tropicalidades, invisível fio de nylon a unir manhãs escaldantes, tardes de sesta e preguiçosas noites em cio. Ficávamos a ver o silencioso despontar das gentes pelos quatro cantos da aldeia e seguíamos-lhes a diária peregrinação do poente, a inalterável repetição da sua lenta escalada pelo lombo do jacaré apaziguado, dorso de tartaruga dormida, onde vinham agradecer em prece mais um dia sob o sol e uma nova noite debaixo da lua. Víamos tudo isto para lá da cerca que separava o quintal da praia, paliçada baixa a desenhar fronteiras que nunca existiram. Víamos tudo isto da ilha de almofadas garridas que inventei estendendo uma esteira debaixo da sombra dos coqueiros, porque gostávamos de amar ao relento, tu e eu, estranho gosto o nosso, que até hoje não sei se era só hábito, se só vício, se mania de qualquer outra coisa que me escape ainda. Nessa época tínhamos uma espécie de caseiro, um mulato largo e grisalho, que beirava os cento e cinquenta quilos e chamávamos de Pedrão, para que o nome lhe reflectisse com mais propriedade a grandeza do corpo opulento e do coração generoso. Amávamos o Gigante Pedrão e ele amava-nos a nós, as suas meninas como calhou de chamar às duas gringas que um dia vieram salvar a casa do médico holandês, abandonada sem comprador interessado para mais de duas décadas, de ser definitivamente engolida pelo vento e pelas areias das dunas. Era sua a única caranga com rodas num raio de oitenta quilómetros e alugámos-lhe os préstimos de motorista sem pestanejar. Como todas as fidelidades genuínas, selámos com os primeiros metros corridos um amor à primeira vista: nós e o mulato grisalho de cento e cinquenta quilos, ele e as meninas que beijavam na boca. Nós penduradas no descoberto do assento de trás, ele dando largas ao volume do respeitável corpanzil e ocupando todo o banco da frente. Vínhamos sempre que a vida se distraía, como se qualquer punhado de três dias já merecesse a fuga, como se qualquer breve intervalo já fizesse valer a viagem ao outro lado do mundo, lá, onde éramos donas do sítio do grande jacaré deitado, última casa antes do começo do mar, de frente para a duna do pôr-do-sol, morada das gringas que fizeram cama antes do fundo da cerca, tingiram a rede de vermelho e plantaram jardim nas bermas da rua de areia que seguia pela orla até à porta da quitanda «Dadivosa», vizinha do mercadinho «Paraíso», em plena praça do lugarejo. Enquanto isso, Pedrão, prestimoso e leal, eterno devoto dessa religião desconhecida rezada em beijos na boca pelas duas meninas que sempre chegavam sem aviso, seguia cuidando da casa e do quintal, defendendo a morada suspensa do teimoso avanço das areias no bico do vento.

(...)

É Novembro e volto a pensar na casa fechada há quase dois anos, incapaz de informar Pedrão que já tanto faz, incapaz de lhe comunicar que as meninas de que continua eterno devoto escorregaram do Éden e se perderam. Incapaz de lhe dar esse desgosto maior que a saudade e a ausência longa, demasiado longa, estranhamente longa. Sei que Pedrão continua abrindo as janelas todas as sextas-feiras de manhã, para que o sol coma aos cantos e recantos a humidade da maresia, não vá dar-se o caso de chegarmos, eu e tu, saudosas desse pedaço de confim onde a vida ainda nada nua por águas claras. Mas não voltámos nunca mais, nós duas. Nunca mais vieram as meninas beijar na boca, ao som da ventoinha de tecto e do sopro infatigável do vento entre o cupim. Não voltou a haver sinal dessa desconhecida religião das gringas fêmeas. Nunca mais voltou a reza dentro da última casa antes do mar, de frente para a duna do pôr-do-sol, onde o jacaré deitou um dia, há muito tempo atrás, acostado ao dorso gigante da tartaruga dormida

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