
O CAMINHO DAS GENTES
Vamos, então! Vamos porque eu não sei, nem quero saber dessa angulosa bruma que te perde ao longe, não quero saber se ainda me segues ou se já me perdeste da mão, da noite e da madrugada. Tanto me importa se erras por plataformas paralelas e te dobras e desdobras procurando iludir, por tentativas, todos os axiomas da física que dizem que nenhum corpo pode, em simultâneo, ocupar dois lugares distintos no espaço. Vem se quiseres, fica se te parecer preferível. Mas desvia-te do meu pé porque eu preciso de continuar por onde seguia já, antes de tu apareceres. Tenho um rio à espera, um rio que canta com o breu da noite, que assobia baixinho a quem tem ouvido de bicho, que chama por mim e diz o meu nome em sílabas claras. Há uma candeia acesa num rabo de pirilampo a marcar-me vectores ao faro, que é para me guiar por entre as encruzilhadas onde o passo às vezes hesita. E nada posso se escolheres não vir comigo! Tão só consentir-te que fiques. Aí: algures. Onde quer que seja que te parece melhor, que eu não posso nada contra as liberdades. Nada. Somente este sorriso cúmplice com que te olho daqui; o sorriso de quem se reconhece numa liberdade igual – a de seguir por onde vou. Ainda que sem ti.
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